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PEDRAS DE PETRA

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Após o Tesouro, o vale se amplia e as construções na rocha se multiplicam. Descubro vários templos e um belo anfiteatro. Caminho mais um pouco e me deparo com os Túmulos Reais. O principal é o Mausoléu da Urna. Mas o tempo começa a ficar curto, os minutos voam. Subo as escadarias, fascinado pela arte dos nabateus. Entro no templo, olho para o teto e meus olhos cintilam…

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A erosão nesse teto de uma habitação em Petra ajudou a criar figuras que só a natureza poderia desenhar. Seriam correntezas de um fundo de mar multicolorido?

Quando minha visão se acostuma à escuridão, consigo reparar que a rocha tem cores vivas. Eu já havia notado, ao cruzar o desfiladeiro de entrada – o Siq – que o arenito possuía tons quentes. Mas, aqui, o teto e as paredes naturais do Mausoléu da Urna mostram outros tipos de desenhos.  Tento fotografar, mas a distância e a penumbra não ajudam.

Meu olhar passa a procurar outros buracos na rocha que possuam essas pinturas naturais nas paredes. Mas é também o momento de fazer uma dura escolha, pois tenho pouco tempo de sobra. Continuo a visitar as ruínas pela avenida abaixo, de olho nos belos monumentos de Petra? Ou deixo de lado o roteiro tradicional e entro em celas e quartos nada importantes por fora, mas que podem esconder um delírio de cores por dentro?

Escolho a segunda opção, mesmo sabendo que eu não visitaria, pelo menos dessa vez, o famoso Monastério, o segundo monumento mais belo do lugar. Desço correndo as escadarias dos túmulos. Logo vejo uma portinha talhada na pedra. Entro e me acostumo com a luminosidade. As paredes e o teto da habitação revelam ondas laranjas e vermelhas, cruzadas por pinceladas roxas e brancas. Não consigo acreditar no que eu vejo, nem no visor da câmera, que consegue captar tudinho.

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Esse conjunto de habitações serviu de moradia para os nabateus há dois milênios. As cavernas foram escavadas nos arenitos de Petra.

Essa arte natural foi criada há milhões de anos, graças à maleabilidade do arenito. A rocha sedimentária é (geralmente) composta de minúsculos grãos de quartzo e feldspato, dois dos minerais mais comuns na superfície da Terra. Uma camada de areia, acumulada pela força da água ou do vento, é compactada pela pressão de novos depósitos de areias que chegam por cima. As diversas camadas são finalmente cimentadas entre elas pela penetração de outros minerais nos espaços entre os grãos de areia.

Assim como acontece com as areias, o arenito chega a nossos olhos com as mais diferentes cores. Aqui em Petra, a variação é imensa. Encontro todas as tonalidades quentes (do vinho ao amarelo claro), as transições do vermelho ao azul (passando pelo roxo e violeta) e diferentes tons de marrons, beges e cinzas – sem esquecer as cores neutras como o branco e o negro. O ferro dá o tom vermelho, o manganês o violeta.

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Uma janela em uma parede que separa duas habitações. As diversas camadas de sedimentação parecem dar movimento ao arenito.

A cada habitação que entro, o espetáculo é diferente. Tudo parece mudar: as cores, as nuances, a largura das camadas compactadas de arenito ou os desenhos criados naturalmente. Começo a falar sozinho, a escutar minhas próprias observações de espanto. Fico deslumbrado, extasiado, com o festival. Parece que alguém entrou no lugar com galões de tintas e, seguindo ímpetos lisérgicos, aspergiu jatos coloridos nas paredes.

O tempo passa com mais rapidez. À medida que descubro novas “galerias de arte”, me preparo para mais surpresas inéditas. “Essa será a última”, penso alto. “Mas aquela outra caverna deve ter alguma coisa”, reflito e desfaço o acordo anterior. Olho o relógio e me dou conta que eu já deveria estar saindo de Petra. Preciso caminhar ainda 2 quilômetros, no mínimo 20 minutos. A fronteira tem hora para fechar.

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Um teto colorido de uma pequena residência. As infiltrações de água participaram do desenho que parece alucinógeno.

Mais cores e mais fotos. Desisto de lutar contra meu entusiasmo. Serei ajuizado, mas chegarei atrasado ao encontro com o motorista – pelo menos meia hora. Ele vai me entender e desculpar. Na verdade, ninguém tinha me avisado que as pedras de Petra eram tão maravilhosas! Culpa da natureza! E, da próxima vez, ficarei no mínimo dois dias!

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Uma fenda numa parede de uma habitação (de quase dois metros de altura) contribui com a forma sinuosa da “decoração natural”.

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Detalhe de um teto, mostrando diferentes camadas de arenito, sedimentadas de maneira quase caótica.


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